Acordei numa manhã soberba
E a calma pairava no ar.
A janela estava meia aberta
E o vento trazia o cheiro a maresia.
Lá fora as ondas enrolavam-se lentamente na areia
E uma nuvem negra passava ao lado,
Seguindo outro destino.
O céu ficou só em tons de azul
Como se pintado por guaches.
E o sol ia aparecendo e aquecendo o ar.
Ao encostar a janela,
O silêncio apoderou-se de mim.
A calma transformou-se em desassossego
E o cheiro a maresia desaparecera por completo.
O bater das ondas soavam com mais violência
E a nuvem negra regressara para esconder o sol.
O céu escureceu e o ar ficou pesado.
Lembrei-me o quanto me fazes falta!
E esta tempestade que vem a caminho
Retrata o meu rosto e a minha alma quando não estás.
De repente a chuva começa a cair aos poucos,
Como se fossem as minhas lágrimas.
Anseio por te ver de novo a sorrir e assim,
Voltarei a acordar numa manhã soberba.
Irei abrir a janela
E o cheiro a maresia regressará com o vento.
Desta vez fecharei os olhos e não hei-de
Olhar para a nuvem negra.
Passará na minha cabeça a imagem do teu sorriso,
Tão alegre e tão sereno.
E quando abrir os olhos,
O sol continuará a lá estar.
segunda-feira, março 28, 2005
domingo, março 27, 2005
sábado, março 26, 2005
Os (irre)conhecidos contemporâneos
Vivemos numa sociedade totalmente repartida por pessoas de várias facetas, pessoas que põem em prática o conhecido fingido.
Imaginemos o cúmulo normal do quotidiano, quando andamos na rua e cumprimentamos alguém que nos faz pensar: “Quem és tu?”, e usamos o tal fingimento do conhecido e agimos como se nada de anormal tivesse acontecido.
Somos confrontados com questões merecidas de respostas simples, mas deparamo-las como pequenos enigmas quase incapazes de serem decifrados.
Qualquer pergunta feita é merecedora de uma resposta directa, mas pensada. O que raramente acontece.
Mesmo aquelas pessoas, a quem damos o nome de “amigos”, com o passar do tempo, tornam-se meros conhecidos, o tal cúmulo de saudar civilizadamente, e depois pensar: “ Sei quem és...saudades...para onde vais?” Claro que nem sempre acontece.
Estes são os conhecidos do nosso tempo, são os contemporâneos que nos assustam, que nos conhecem, que se “penduram” em nós como se as nossas vidas fossem uma só, e que depois dizem um “até já”, mas demorado.
Esta é a “verdade verdadinha” que nos magoa e que às vezes se torna insuportável suportar. E temos de viver com esse insuportável sentimento de vazio, um sentimento de uma mera solidão parcial que nos quebra ao longo da vida. Será?
E agora o nosso pequeno dilema, quem somos nós?
Por mais que um ser humano matraque sempre nesta mesma questão e por mais que pensemos, nunca haverá uma resposta directa e muito menos simples. E porquê?
Bem, seguindo o meu humilde raciocínio, um ser humano que vive o seu dia-a-dia depara-se com os mais diversos problemas colocados à sua frente, com as mais diversas questões e juntando a estes conflitos os sentimentos mal direccionados e “mal sentidos”. É normal que ao fim do dia pense nos tantos porquês que por aí pairam neste ar sobrecarregado de dúvidas empoeiradas.
Pensamos sempre que há-de melhorar...esperemos que sim.
Sejamos conhecidos contemporâneos...futuristas, ou seja lá o que isso for!
Imaginemos o cúmulo normal do quotidiano, quando andamos na rua e cumprimentamos alguém que nos faz pensar: “Quem és tu?”, e usamos o tal fingimento do conhecido e agimos como se nada de anormal tivesse acontecido.
Somos confrontados com questões merecidas de respostas simples, mas deparamo-las como pequenos enigmas quase incapazes de serem decifrados.
Qualquer pergunta feita é merecedora de uma resposta directa, mas pensada. O que raramente acontece.
Mesmo aquelas pessoas, a quem damos o nome de “amigos”, com o passar do tempo, tornam-se meros conhecidos, o tal cúmulo de saudar civilizadamente, e depois pensar: “ Sei quem és...saudades...para onde vais?” Claro que nem sempre acontece.
Estes são os conhecidos do nosso tempo, são os contemporâneos que nos assustam, que nos conhecem, que se “penduram” em nós como se as nossas vidas fossem uma só, e que depois dizem um “até já”, mas demorado.
Esta é a “verdade verdadinha” que nos magoa e que às vezes se torna insuportável suportar. E temos de viver com esse insuportável sentimento de vazio, um sentimento de uma mera solidão parcial que nos quebra ao longo da vida. Será?
E agora o nosso pequeno dilema, quem somos nós?
Por mais que um ser humano matraque sempre nesta mesma questão e por mais que pensemos, nunca haverá uma resposta directa e muito menos simples. E porquê?
Bem, seguindo o meu humilde raciocínio, um ser humano que vive o seu dia-a-dia depara-se com os mais diversos problemas colocados à sua frente, com as mais diversas questões e juntando a estes conflitos os sentimentos mal direccionados e “mal sentidos”. É normal que ao fim do dia pense nos tantos porquês que por aí pairam neste ar sobrecarregado de dúvidas empoeiradas.
Pensamos sempre que há-de melhorar...esperemos que sim.
Sejamos conhecidos contemporâneos...futuristas, ou seja lá o que isso for!
sexta-feira, março 25, 2005
A Infinita Fiadeira de Mia Couto, in O Fio das Missangas (contos)
(A aranha ateia
diz ao aranho na teia:
o nosso amor está por um fio!)
diz ao aranho na teia:
o nosso amor está por um fio!)
A aranha, aquela aranha, era tão única: não parava de fazer teias! Fazia-as de todos os tamanhos e formas. (...) E dia e noite: dos seus palpos primavam obras, com belezas de cacimbo gotejando, rendas e rendilhados. Tudo sem fim nem finalidade. Todo o bom aracnídeo sabe que a teia cumpre as fatais funções: lençol de núpcias, armadilha de caçador. Todos sabem, menos a nossa aranhinha, em suas distraiçoeiras funções. (...)
- Não faço teias por instinto.
- Então, faz porquê?
- Faço por arte.
Benzia-se a mãe, rezava o pai. (...)
A família desiludida consultou o Deus dos bichos, para reclamar da fabricação daquele espécime.
Uma aranha assim, com mania de gente? Na sua alta teia, o Deus dos bichos quis saber o que poderia fazer. Pediram que ela transitasse para humana. E assim sucedeu: num golpe divino, a aranha foi convertida em pessoa. Quando ela já transfigurada, se apresentou no mundo dos humanos logo lhe exigiram a imediata identificação. Quem era, o que fazia?
- Faço arte.
- Arte?
E os humanos se entreolharam, intrigados. Desconheciam o que fosse arte. Em que consistia? Até um, mais-velho, se lembrou. Que houvera em tempo, em tempos de que já se perdera memória, em que alguns se ocupavam de tais improdutivos afazeres. Felizmente, isso tinha acabado, e os poucos que teimavam em criar esses pouco rentáveis produtos – chamados de obras de arte – tinham sido geneticamente transmutados em bichos.
Não se lembrava bem em que bichos. Aranhas, ao que parece.
- Não faço teias por instinto.
- Então, faz porquê?
- Faço por arte.
Benzia-se a mãe, rezava o pai. (...)
A família desiludida consultou o Deus dos bichos, para reclamar da fabricação daquele espécime.
Uma aranha assim, com mania de gente? Na sua alta teia, o Deus dos bichos quis saber o que poderia fazer. Pediram que ela transitasse para humana. E assim sucedeu: num golpe divino, a aranha foi convertida em pessoa. Quando ela já transfigurada, se apresentou no mundo dos humanos logo lhe exigiram a imediata identificação. Quem era, o que fazia?
- Faço arte.
- Arte?
E os humanos se entreolharam, intrigados. Desconheciam o que fosse arte. Em que consistia? Até um, mais-velho, se lembrou. Que houvera em tempo, em tempos de que já se perdera memória, em que alguns se ocupavam de tais improdutivos afazeres. Felizmente, isso tinha acabado, e os poucos que teimavam em criar esses pouco rentáveis produtos – chamados de obras de arte – tinham sido geneticamente transmutados em bichos.
Não se lembrava bem em que bichos. Aranhas, ao que parece.
Brincando com o Fingido
Se finges ser quem és,
eu finjo o teu fingimento!
Finjo ser fingidora
Fingindo o fingido
Divago nesse teu mundo
E faço de conta,
como tu,
Que ainda existe o existido.
Neste meu acto de andar sem rumo,
Percorro os teus labirintos imaginários,
Saltando por entre nuvens inexistentes
Que desenhas,
E ninguém vê ou percebe
Que uso o imaginário
Desta tua loucura oca
Que finge ver aquilo que não existe
E que brinca com o fingido.
eu finjo o teu fingimento!
Finjo ser fingidora
Fingindo o fingido
Divago nesse teu mundo
E faço de conta,
como tu,
Que ainda existe o existido.
Neste meu acto de andar sem rumo,
Percorro os teus labirintos imaginários,
Saltando por entre nuvens inexistentes
Que desenhas,
E ninguém vê ou percebe
Que uso o imaginário
Desta tua loucura oca
Que finge ver aquilo que não existe
E que brinca com o fingido.
quinta-feira, março 24, 2005
terça-feira, março 22, 2005
Meu Mar
A perfeição procurada
Neste meu agigantado mar,
Manifestou-se selada
Por segredos que se desenham
Nas ondas,
Como se decalcadas
Por nuvens e sombras imaginárias.
Procuro neste eterno mar
As respostas que não encontro,
E cada vez que me aproximo
A onda enrola-me e
Devolve-me à areia seca.
Mar, meu mar,
Meu grandioso encanto de mil cores
Espalhadas pelos sorrisos
Daqueles que te vêem,
Exibindo as suas grandezas
Inexistentes
E não passam do tamanho de uma gota tua.
Tão frágeis que são.
Conto-te o que vi e o que senti,
E a tua transparência,
Que é maior que a minha,
Faz com que deseje percorrer
Esse teu mundo divino.
Projecto-te as minhas lamúrias
E as alegrias do quotidiano
Que acolhes com a tua calma,
Devolvendo-me a tentativa de paz, as incertezas
E o pensamento que volta à rotina
De mares perdidos e de barcos esquecidos
Num sítio longínquo
Onde ninguém se atreve caminhar.
Neste meu agigantado mar,
Manifestou-se selada
Por segredos que se desenham
Nas ondas,
Como se decalcadas
Por nuvens e sombras imaginárias.
Procuro neste eterno mar
As respostas que não encontro,
E cada vez que me aproximo
A onda enrola-me e
Devolve-me à areia seca.
Mar, meu mar,
Meu grandioso encanto de mil cores
Espalhadas pelos sorrisos
Daqueles que te vêem,
Exibindo as suas grandezas
Inexistentes
E não passam do tamanho de uma gota tua.
Tão frágeis que são.
Conto-te o que vi e o que senti,
E a tua transparência,
Que é maior que a minha,
Faz com que deseje percorrer
Esse teu mundo divino.
Projecto-te as minhas lamúrias
E as alegrias do quotidiano
Que acolhes com a tua calma,
Devolvendo-me a tentativa de paz, as incertezas
E o pensamento que volta à rotina
De mares perdidos e de barcos esquecidos
Num sítio longínquo
Onde ninguém se atreve caminhar.
quinta-feira, março 17, 2005
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