(A aranha ateia
diz ao aranho na teia:
o nosso amor está por um fio!)
diz ao aranho na teia:
o nosso amor está por um fio!)
A aranha, aquela aranha, era tão única: não parava de fazer teias! Fazia-as de todos os tamanhos e formas. (...) E dia e noite: dos seus palpos primavam obras, com belezas de cacimbo gotejando, rendas e rendilhados. Tudo sem fim nem finalidade. Todo o bom aracnídeo sabe que a teia cumpre as fatais funções: lençol de núpcias, armadilha de caçador. Todos sabem, menos a nossa aranhinha, em suas distraiçoeiras funções. (...)
- Não faço teias por instinto.
- Então, faz porquê?
- Faço por arte.
Benzia-se a mãe, rezava o pai. (...)
A família desiludida consultou o Deus dos bichos, para reclamar da fabricação daquele espécime.
Uma aranha assim, com mania de gente? Na sua alta teia, o Deus dos bichos quis saber o que poderia fazer. Pediram que ela transitasse para humana. E assim sucedeu: num golpe divino, a aranha foi convertida em pessoa. Quando ela já transfigurada, se apresentou no mundo dos humanos logo lhe exigiram a imediata identificação. Quem era, o que fazia?
- Faço arte.
- Arte?
E os humanos se entreolharam, intrigados. Desconheciam o que fosse arte. Em que consistia? Até um, mais-velho, se lembrou. Que houvera em tempo, em tempos de que já se perdera memória, em que alguns se ocupavam de tais improdutivos afazeres. Felizmente, isso tinha acabado, e os poucos que teimavam em criar esses pouco rentáveis produtos – chamados de obras de arte – tinham sido geneticamente transmutados em bichos.
Não se lembrava bem em que bichos. Aranhas, ao que parece.
- Não faço teias por instinto.
- Então, faz porquê?
- Faço por arte.
Benzia-se a mãe, rezava o pai. (...)
A família desiludida consultou o Deus dos bichos, para reclamar da fabricação daquele espécime.
Uma aranha assim, com mania de gente? Na sua alta teia, o Deus dos bichos quis saber o que poderia fazer. Pediram que ela transitasse para humana. E assim sucedeu: num golpe divino, a aranha foi convertida em pessoa. Quando ela já transfigurada, se apresentou no mundo dos humanos logo lhe exigiram a imediata identificação. Quem era, o que fazia?
- Faço arte.
- Arte?
E os humanos se entreolharam, intrigados. Desconheciam o que fosse arte. Em que consistia? Até um, mais-velho, se lembrou. Que houvera em tempo, em tempos de que já se perdera memória, em que alguns se ocupavam de tais improdutivos afazeres. Felizmente, isso tinha acabado, e os poucos que teimavam em criar esses pouco rentáveis produtos – chamados de obras de arte – tinham sido geneticamente transmutados em bichos.
Não se lembrava bem em que bichos. Aranhas, ao que parece.
6 comentários:
Parece que vou estrear os comentários... (ainda me há-de explicar como chegou ao Escorrega)
Bonito blog. Gostei muito das fotografias. Havendo igual talento para a Macro, vai ter uma nota brilhante!
Sábado será presente...
Olá Natalie, obrigada por teres visitado o meu blog de palavras e memórias madeirenses. E obrigada também por guardares o "bertoldinho" com estimação e por teres este blog. Adoro tudo o que o Mia Couto escreve e esta da Aranha é fenomenal. Muitos e bons voos literários.
Lília Mata
Olá, você não me conhece, me chamo Verônica e moro no Brasil. Navegando pela net pude perceber que você gosta do Mia Couto, gostaria que me auxiliasse para a execussão de um trabalho sobre o livero O fio das missangas, eu preciso analisar dois contos e não sei nem por onde vou começar. Se tiver alguma coisa já pronta me envie por e-mail, por favor! Agradeço a atençao. Um abraço
Verônica
Ah! esqueci de te dizer, meu e-mail é: veaoa@ig.com.br
Eu preciso ter pelo menos uma idéia de como começar meu trabalho, não vou fazer cópia, apenas tirar uma idéia. Obrigada!
Verônica
gostei muito do seu blog,e gostaria de saber muito mais sobre Mia Couto e em especial sobre este conto que sem duvida merece uma analise profunda,se tiver alguma informaçao ou opiniao envie para peace-love_barbara_93@hotmail.com
bom comeco
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